terça-feira, 30 de outubro de 2007

sincronia do fim

Amou daquela vez
Como se fosse a última
Beijou sua mulher
Como se fosse a última
E cada filho seu
Como se fosse o único
E atravessou a rua
Com seu passo tímido
Subiu a construção
Como se fosse máquina
Ergueu no patamar
Quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo
Num desenho mágico
Seus olhos embotados
De cimento e lágrima
Sentou prá descansar
Como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz
Como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou
Como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou
Como se ouvisse música
E tropeçou no céu
Como se fosse um bêbado
E flutuou no ar
Como se fosse um pássaro
E se acabou no chão
Feito um pacote flácido
Agonizou no meio
Do passeio público
Morreu na contramão
Atrapalhando o tráfego...

Amou sua família
Amou sua vida
Subiu a construção como se fosse íntimo
Flutuou no ar como se fosse o último
E se acabou no meio do passeio público.

*Ontem, enquanto o coral do meu colégio ensaiava a música "Construção", um jovem suicidou-se pulando de um prédio em construção (prédio esse muito próximo do meu colégio).
Uma triste coincidência.

3 comentários:

Anônimo disse...

certa vez um homem escreveu que o que leva alguém a dar cabo da própria vida não é o desapego que o suicida tem por ela, muito pelo contrário, é por demasiadamente amar a própria vida que ele leva a uma conseqüência desesperada de por um fim no sofrimento que lhe impede de viver.

são poucas as coisas que me deixam tão triste quanto saber que alguém suicidou.

Aline disse...

posso fazer das palavras do bruno as minhas? ://
putzz, que coincidência horrível.

João Paulo disse...

Putz...