quinta-feira, 1 de novembro de 2007

recomendação do dia

Ontem li um texto muito interessante e inclusive comentei sobre ele no Leite com toddy. É uma perspectiva bem diferente do comum sobre o problema do aquecimento global. Acho que todos que lerem, assim como eu, vão mudar um pouco seus conceitos.

Boa leitura e aproveitem.
-------------------------------


Por favor, não me tome por um cético. As evidências me deixam totalmente convencido de que as mudanças climáticas são reais e graves. Dos 12 anos mais quentes de que se tem notícia, 11 ocorreram desde 1995. Houve um aumento de temperatura de 0,74 grau Celsius no século passado. (Se isso parece pouco, lembre-se de que a diferença de temperatura entre a era glacial e hoje é de 5 graus.) A concentração dos gases que provocam o efeito estufa na atmosfera aumentou drasticamente desde a Revolução Industrial. O metano dobrou e os níveis de gás carbônico subiram 30% desde 1750. O recente relatório do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas prevê que até 2100 as temperaturas terão subido entre 1,1 grau e 6,4 graus. Como resultado, o nível do mar deverá subir entre 18 centímetros e 59 centímetros. O problema é que, aceitando-se todos esses fatos e teorias sobre o aquecimento global, é difícil ver qualquer reação que possa evitá-lo.
Os gases que estão provocando o aquecimento da Terra vêm se acumulando há centenas de anos. Não vão desaparecer facilmente. Mesmo se o mundo aderir aos planos mais ambiciosos de combate à mudança climática, segundo a maioria dos cientistas, a concentração de gases que provocam o efeito estufa continuará a elevar-se por décadas. O aquecimento global já está inscrito no futuro da Terra.
Para manter esses gases nos níveis atuais, seria preciso cortar a emissão de gás carbônico em 60%. Tendo em vista a tecnologia disponível, seria necessário cortar a atividade industrial mundial em uma escala que faria a crise de 1929 parecer pequena. Na verdade, é quase certo que haverá uma emissão de carbono consideravelmente maior. A maioria dos estudos prevê que o consumo de energia no mundo vai dobrar até 2050. Boa parte vai acontecer na China e na Índia. Esses dois países estão construindo 650 usinas termelétricas. A emissão de CO2 delas todas será cinco vezes maior que a economia que o acordo assinado em 1997 em Kyoto obteria se todos os países ocidentais tivessem aderido a suas metas, o que não ocorreu.
Exponho esses fatos não para incentivar fatalismo ou condescendência. Não termos começado a parar de usar combustíveis “sujos” é escandaloso. Mas, mesmo se tivéssemos, a Terra ainda sofreria um aquecimento considerável nas próximas décadas. Então, além de nossos esforços para evitar e atenuar as mudanças climáticas, precisamos pôr em prática outra estratégia: adaptação.
Ninguém gosta de falar disso porque parece derrotismo. Mas o resultado é que, enquanto debatemos, estamos despreparados para lidar com as conseqüências do aquecimento. Seja ou não a emissão de CO2 a responsável, podemos ver que o nível do mar está subindo. O que faremos?
Em setembro do ano passado, a presidente da Associação Britânica pelo Avanço da Ciência, Frances Cairncross, pediu que se começasse essa discussão. “Precisamos pensar em políticas para nos preparar para um mundo mais quente e mais seco, sobretudo nos países pobres”, disse. “Isso pode demandar, por exemplo, novos cultivos, barragens contra enchentes, novas normas para construção perto do nível do mar.” Ao contrário dos planos para a diminuição do aquecimento global, que demandam um esforço internacional enorme e simultâneo, as estratégias de adaptação podem ser levadas a cabo individualmente por países, Estados, cidades ou localidades.
Muitos defensores do meio ambiente temem que falar sobre enfrentar o aquecimento global atrapalhe os esforços para diminuí-lo. Na verdade, não temos outra saída além de fazer os dois. O crucial é parar de falar e começar a agir.
Fareed Zakaria. Época, 19 de fevereiro de 2007.

3 comentários:

João Paulo disse...

Massa...

Anônimo disse...

nem acho..

Anônimo disse...

adorei!